A força das palavras #2

12:19

                                                              "Bastou um olhar"

Bastou um olhar não tão próximo, um tanto desfocado, mas intencional e ao mesmo tempo instintivo. A partir do momento em que me captou a atenção pela sua presença, invulgaridade e por algo mais que não consigo nem sei explicar, eu decidi que ia fazer o que estivesse ao meu alcance para explorar o mundo que queria conhecer, o mundo onde quis logo viver, o mundo dele.


À medida que fui conhecendo os passeios da estrada que queria percorrer, fui percebendo que tudo me agarrava a ele. O meu caminho era ele e já não podia fugir dessa realidade. Nem sequer resisti porque achei que seria uma boa parceira para ele, nessa viagem que prometia ser de descoberta, partilha e paixão.


Quanto mais entrava nos olhos dele mais me agarrava, sabia que não se sente uma paz e uma felicidade tão pura e tão expectante - daquela que nos faz sonhar consciente e inconscientemente - tantas vezes assim. 





À medida que fomos caminhando, fui conhecendo sítios que nunca pensei vir a conhecer, por "sítios" leia-se momentos, sentimentos, que não têm definição, tamanho ou compensação. Nem sequer por analogia posso exprimir exatamente onde fui, aquilo que vivi, aquilo que senti. Procurei dar-lhe a conhecer o que nem eu conhecia, dar-lhe o que qualquer homem gostaria, um passeio, um carinho e um sorriso a começar o dia.


Aquilo que nos ligava tornou-se uma força capaz de pegar no mundo e virá-lo ao contrário. Tão forte que acabou por se tornar autodestrutivo. Aí houve um conjunto de fatores que tornaram a nossa viagem, até então em tons de mel, numa corrida para o abismo, com curvas apertadas, piso molhado e obstáculos complicados.


A história marca as pessoas. Nós dirigimos o nosso comportamento com base em princípios e vivências antigas - referências ultrapassadas temporariamente, mas não culturalmente. Assim, a minha própria história afetou o nosso caminho porque, sem eu me aperceber, tornou a estraga muito mais íngreme. Tão íngreme que apesar de eu continuar a puxá-la, ela perdeu a força e largou-me a mão.


Hoje, tudo isso faz parte da minha história. E por consequência, tudo isso vai pesar no meu comportamento, na minha liberdade moral e no meu estado de espírito e de interação.


Recordo os pores do sol, os jantares, os encontros a horas tardias, as conversas que entravam pela noite dentro, os cheiros, os olhares, os sorrisos e as gargalhadas, os carinhos, os beijos, a cumplicidade, a confiança, o à vontade, as músicas, os lugares... A textura suave da sua pele. Mil e uma coisa que eu não posso escrever porque o tempo vai passando e foram tantos os pormenores por que me apaixonei. Os pequenos momentos em que ele me dava a mão e eu lhe sentia o coração. Quando ouvia a voz mais bonita do mundo dizer-me "Amo-te". Quando sentia que ele me queria, que ele me sentia e que a nossa paixão ardia. Recordo o tempo que tínhamos um para o outro, o que fazíamos um pelo outro, o que sentíamos um pelo outro. Quando ele era "o meu pequenino".


e ainda hoje, vejo nos olhos dele o que procurei em outros tantos mas nunca encontrei. Vejo no sorriso dele o que me acelera a pulsação e me enche o peito. Vejo na pessoa dele quem eu continuo a querer, sem saber, e que me faz estremecer, sem querer.


Só queria já ter aprendido o que aprendi, naquela que foi a viagem da minha vida, antes de a fazer. Com a convicção que assim teríamos percorrido um caminho diferente e talvez nunca tivéssemos chegado ao fim da estrada, onde estava o cruzamento que nos separou.


Agora é tarde, mas o tempo é ambíguo e acredito que um dia voltarei a viajar. 



You Might Also Like

0 Comentários